um fim de tarde solarengo, com uma suave brisa a causar arrepios, a pele nua expunha-se assim aos rigores outonais que despontam à medida que o sol se põe..
um jardim, mais um, dos tantos da infancia, espaço sobejamento conhecido por praticantes de desporto, ou casais universitarios em busca de sossego..
os passaros cantam, timidamente, e o sol baixa.. a moleza interior originada por uma sucessão de dias de insonia forçada vai dando origem, ajudada pelo ambiente melódico, a uma monumental melancolia..
sento-me num banco de pedra, deito-me, sento-me, tiro uma camisola da mala.. a brisa deu finalmente origem a um frio intenso, cheira a castanhas.. o sol começa a desaparecer..
falta quase uma hora para um encontro próximo, já ali ao lado, 50 metros, um intervalo na continuidade do tempo leva-me a interromper a existência..
sento-me, deito-me...
acordo.. quase noite cerrada, um bando de mosquitos deliciou-se com os restos de pele que deixei expostos.. tremo de frio, de sono, a melancolia entristece-me..
sento-me, respiro fundo, enquanto alguns jovens adolescentes passam a correr, cabelos ao vento, levanto-me.. aqueço-me com os braços à volta, num abraço solitario.. faltam 10 minutos.. esfrego os olhos e dou inicio à marcha, lenta, sonolenta, semi-calambeante..
a pedra fria gelou-me as costas.. esfrego-as para me aquecer.. movo em frente.. sigo pela linha do espaço-tempo.. reaprendo a andar, a respirar, a deixar de sentir ou de me emocionar..
e no fim.. apenas sobra uma picada de mosquito numa mão.. junto ao polegar..