... apaixono-me, cada vez que
a vislumbro na existência sonora, cada vez que melodicamente a abraço, apertando-a fortemente dentro de mim, enquanto liberto lágrimas, da dor de não ser com ela, da dor de não existir, da dor de não ser habitual doer.
Faz-me viver mundos, nos quais sinto, mas não existo. Faz-me existir, traz-me à tona numa hiper-sensibilidade existencial, que me é desconhecida, que não me é reconhecida, nem mesmo pelos que estão mais dentro de mim do que eu próprio.
Todos os mergulhos visam o fundo do mar, em todos se respira fundo antes de tocar na água. Sente-se a agua gélida contra o calor do corpo, envolvente, num abraço eterno, numa fúria existencial, para num golpe de rins se negar tudo o que se é, como se é, para evitar sentir, para evitar existir em conivência com o abraço que nos torna mais, melhores e mais fortes, mas que nos mata, nos impede de viver, nos torna surreais e impossíveis.
Falta-me a influência aquática, apesar de aparecer ocasionalmente, faz-me falta mergulhar em mim, mesmo que isso por vezes me impeça de regressar à tona.
Estou cansado de viver fora de água. Sei que morrerei dentro dela, mas já não me assusta, antes pelo contrário.
... a nossa morte será tão bela...